quinta-feira, junho 7

Ofensiva despesista

O que aqui diz o Pedro Morgado roça o insulto, para não dizer o ridículo. Considerar que cada um se comprometa a pagar pela reparação dos danos que causou no seu organismo é, para o Pedro Morgado, uma visão medieval. Provavelmente, o PM considera moderno que um cidadão que não tem grandes gastos de saúde, esteja a pagar a banda gástrica ou a terapia hormonal de um outro cidadão, que aproveitou o que tinha de bom na vida, sabendo que os cuidados de saúde "tendencialmente gratuitos" iriam tomar conta dele, quando a altura chegasse.

É sempre muito apelativo falar nestes termos sobre saúde. Alguém que tente impor uma certa justiça e ordem no financiamento de um sistema de saúde, é longo catalogado de ser autor de uma "ofensiva neoliberal". O que o Pedro Morgado não discute, nem sequer aborda, é que o nosso SNS está com um grave problema financeiro. E este problema não se desvanece com as bonitas palavras que ele nos apresenta.

Já abordei o problema do financiamento da saúde em dois artigos (este e este). Algumas das respostas que recebi a propósito dos artigos, até são semelhantes às palavras do Pedro Morgado. É quase como se alguém entendesse, que pelo facto de ter estas posições em relação ao financiamento da saúde, não me preocupo tanto quanto aqueles que têm as soluções estatistas. Enganam-se meus caros.

9 comentários:

AA disse...

Socialism, like the ancient ideas from which it springs, confuses the distinction between government and society.

As a result of this, every time we object to a thing being done by government, the socialists conclude that we object to its being done at all. We disapprove of state education. Then the socialists say that we are opposed to any education. We object to a state religion. Then the socialists say that we want no religion at all. We object to a state-enforced equality. Then they say that we are against equality. And so on, and so on.

It is as if the socialists were to accuse us of not wanting persons to eat because we do not want the state to raise grain.

AA disse...

Bruno, não vale a pena uma pessoa se insurgir contra quem nem consegue articular um argumento lógico.

("contra quem" porque de facto não há ali ideias, apenas emoções - não vale a pena cair na mesma reacção falaciosa...)

Pedro Morgado disse...

Vão ter que me perdoar o "ridículo" e o "insulto" de não conseguir deixar morrer, por falta de cuidados ou de meios para os pagar, o tipo A porque bebia muito ou o tipo B porque fumava ou o tipo C porque comia demais...

Ricardo disse...

Estão aqui em conflito duas visões bem distintas do que deve ser a cobertura da saúde e a forma como deve ser financiada. Eu sou adepto da universalidade e da distribuição de riscos de saúde e nada adepto de separação entre doenças "com culpa" e "sem culpa". Assim sendo concordo com a visão do Pedro. O problema financeiro do SNS tem que ser visto em perspectiva, ou seja, é natural que custe recursos (os impostos são pagos para alguma coisa) e é possível, com controlo nos gastos (nas comparticipações dos medicamentos, com melhor gestão), encontrar soluções que garantam os princípios que defendi há pouco. Há países, com sistemas bem mais liberais, que têm um maior descontrolo nos gastos e que, adicionalmente, abdicam de grande parte da universalidade e da distribuição de riscos de saúde.

AA disse...

Caro Pedro,

Se o fizer pelos seus próprios meios terá todo o meu louvor. Passará a ser um dos meus heróis - um verdadeiro empreendedor social.

Mas não pretenda fazê-lo roubando a terceiros - incluindo a mim - e condicionando a liberdade de quem "salva" e dos solidários à força, porque se arroga ao papel de salvador das pessoas e da sociedade.

Ricardo disse...

AA,

Se tudo o que a sociedade poder adquirir tiver como critério ter que ser viabilizado "pelos próprios meios" (individuais) então, na minha óptica, quase nada vai ser conquistado e até os ganhos individuais dos que hoje são "prejudicados" teriam um saldo negativo a prazo. A saúde é um desses casos onde não vejo vantagens aparentes em utilizar um sistema de mercado mais "puro" já que as especificidades da área limitam a eficiência dessas mesmas regras de mercado. O que é importante é continuar a promover uma distribuição dos riscos de saúde e uma universalidade pragmática com a maior eficiência possível nos gastos.

Abraço,

Ricardo disse...

puder*

Anónimo disse...

Eu, de facto, sempre que como um bolo, penso logo que o Estado me há de pagar a banda gástrica e a lipo-aspiração. E quando vou à praia, e só coloco factor 20. Penso logo, "que se lixe, o estado paga a quimioterapia". Eu até sempre quis rapar o cabelo...

Se o Estado não pagasse, eu até pensava duas vezes. Mas como eu até gosto de me submeter a operações cirurgicas e a ter uma vida de merda enquanto espero pelas operações...

E digo mais. Eu podia simplesmente assumir que sou contra o SNS. Essa cena de um gajo ser obrigado a ajudar os que não podem a viver sem doença não está com nada. Os gajos que se f@d@m! Poupassem. E se forem crianças, azar. Comessem menos iogurtes açucarados. Que morram, é problema deles.
Mas em vez de me assumir contra o SNS, vou antes aceitar o sistema público, mas numa versão liberal. Do estilo, o sistema é público, mas cada um paga o seu. Pode não ser muito coerente, mas vou sentir-me muito mais inteligente.

Ah, e essa cena de lá por eu beneficiar de viver em sociedade implicar o assumir de obrigações perante essa sociedade, caguei! O dinheiro é meu. Os cancerosos que se fodam. A culpa é deles. Não nascessem. Eu só pago as curas aos outros. Aos que nunca pecaram. Aos que não têm culpa. Enfim, aos que ainda não nasceram...

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Snowball,

Devo dizer que gostei de ler o seu comentário. Tendo dito isto, mantenho as minhas posições. É necessário transferir para os cidadãos uma maior responsabilidade no SS.

E eu não defendo uma lei da selva, como refiro nos meus artigos....