quinta-feira, maio 17

Dar Sangue


Julgo que o João Miranda abordou muito bem a questão. O que está, ou melhor, deveria estar em discussão, é mesmo “se a exclusão de homossexuais é, nos dias de hoje, uma boa heurística.” Nada mais.

A discriminação que se fala, só faria sentido caso a exclusão fosse apenas pela orientação sexual da pessoa, o que efectivamente não é. Como já foi referido por várias pessoas, existem outros grupos que estão excluídos pelos comportamentos que têm.

11 comentários:

Pedro Morgado disse...

Discordo.

O que se pretende é que os homossexuais continuem impedidos de doar sangue... Mas:

1º Dar sangue não é, de facto, um direito e a aceitação de dadores deve basear-se em critérios epidemiológicos e de saúde pública;
2º Ser homossexual NÃO é factor de risco para a contração de NENHUMA doença infecciosa (pelo menos não tenho conhecimento de nenhum estudo credível que o comprove);
3º Existem comportamentos que implicam aumento do risco de se contraírem certas doenças, mas o impacto desses comportamentos é independente da orientação sexual (o risco de contrair HIV no coito anal entre heterossexuais é igual ao risco no coito anal homossexual);

A questão é epidemiológica e, posto isto, defender a exclusão de todos os homossexuais da possibilidade de doarem sangue é puro preconceito. Um cidadão nunca pode ser julgado pelo comportamento dos indivíduos que, com ele, integram determinado grupo mas sim pelos seus próprios comportamentos. Ou deve um recluso ser impedido de doar sangue só porque os níveis de HIV nas prisões são superiores aos do resto da população?

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

Caro Pedro Morgado,


"1º Dar sangue não é, de facto, um direito e a aceitação de dadores deve basear-se em critérios epidemiológicos e de saúde pública;"

Precisamente.

"2º Ser homossexual NÃO é factor de risco para a contração de NENHUMA doença infecciosa (pelo menos não tenho conhecimento de nenhum estudo credível que o comprove);"

Correcto. Os factores de risco vão depender dos comportamentos, que a pessoa (independentemente da sua orientação sexual) terá.

"3º Existem comportamentos que implicam aumento do risco de se contraírem certas doenças, mas o impacto desses comportamentos é independente da orientação sexual (o risco de contrair HIV no coito anal entre heterossexuais é igual ao risco no coito anal homossexual);"

De um ponto de vista epidemiológico isso não é verdade. É possível que hoje em dia já não o seja, mas nos anos 80 os homossexuais era um grupo de risco, e com justificação para isso.

"defender a exclusão de todos os homossexuais da possibilidade de doarem sangue é puro preconceito."

Permita-me Pedro, mas não concordo, tal como indico no meu post.

"Um cidadão nunca pode ser julgado pelo comportamento dos indivíduos que, com ele, integram determinado grupo mas sim pelos seus próprios comportamentos."

Completamente verdade. Mas tratando-se de uma questão de saúde pública, como é o caso, é de bom senso existir algum cuidado (caso, volto a repetir, se de um ponto de vista epidemiológico ainda se justificar). Se existir um homossexual virgem que queira doar sangue, obviamente não existe problema.

"Ou deve um recluso ser impedido de doar sangue só porque os níveis de HIV nas prisões são superiores aos do resto da população?"

É uma dúvida a ponderar, obviamente. Não me diga, que não acha que nesse caso (ou semelhantes) o cuidado não deve ser maior?

Um abraço

Anónimo disse...

"The beauty line" time is long gone.Portanto deixemos os anos 80 e procuremos ser um pouco menos preconceituosos.O cuidado de que falas deve ser o mesmo em grau e espécie para qualquer caso e em qualquer caso.Digo eu...

Polina Aleksándrovna

Anónimo disse...

*Correcção: "The line of Beauty".Por favor, não associar a cosmética. Obrigada.

P. Aleksándrovna

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

"Portanto deixemos os anos 80 e procuremos ser um pouco menos preconceituosos."

Não é uma questão de se deixar os anos 80. O que está em jogo é saber se a situação ainda se mantém, muito simplesmente. E isto não é discriminação, será que ninguém compreende isso?

Abraço

José Raposo disse...

Bruno, e oa africanos podem dar sangue?

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

José,

É para entrar agora nas acusações de racismo?

José Raposo disse...

Bruno, claro que não. Não te estou a acusar de racismo. Nem tenho qualquer razão para isso. Já passo por aqui há algum tempo e sabes que não é a minha forma de abordar as questões.
O que te estou a perguntar é se os africanos podem ou não dar sangue?

Bruno Gouveia Gonçalves disse...

José,

Certo.

"O que te estou a perguntar é se os africanos podem ou não dar sangue?"

Se não fazem parte de nenhum grupo de risco, não vejo razão contra.

José Raposo disse...

Então sob que critério epidemiológico justificas que se recuse, com base no famoso questionário prévio, doação de sangue de pessoas que estiveram em África, mas não a africanos de uma forma geral?
É que sendo assim a ideia de recusar de uma forma geral, doação de sangue de homossexuais é um absurdo e logo uma discriminação inaceitável.

Anónimo disse...

Quando o tema é saúde pública, a máxima é "todo o cuidado é pouco". Concordo. Há que, contudo, saber ver onde termina a precaução e começa a discriminação...
A linha divisória pode por vezes ser ténue e balancear inclusivamente consoante o tempo e o lugar mas procuremos usar um meio termo justo.

Polina Aleksándrovna